Por 17 votos a 3, a Câmara Municipal de Betim arquivou cinco pedidos de cassação do vereador Gilson da Autoescola (Cidadania), que teria participado das manifestações bolsonaristas e que culminaram em atos de vandalismo nas sedes dos Três Poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário), no dia 8 de janeiro, em Brasília. Na ocasião, o parlamentar publicou vídeos na internet em frente ao Congresso Nacional. No dia seguinte, a Comissão de Ética abriu um processo para apurar possível quebra de decoro do vereador na Capital Federal.
Na primeira reunião ordinária do ano, nesta manhã, os vereadores votaram cinco pedidos de cassação de mandato feitos pelo PT Betim e CDDH Betim (Centro de Defesa dos Direitos Humanos), além de outros três pedidos feitos por cidadãos betinenses.
Antes da votação, Gilson da Autoescola (Gilson de Sousa Carvalho) subiu à tribuna do plenário e justificou sua presença em Brasília, alegando que tinha a intenção de “fazer parte de um manifesto pacífico, do qual não fariam parte invasões, quebradeiras e depredação de patrimônio”, e que foi embora para o hotel em que estava hospedado “assim que os tumultos cresceram no local”.
Entenda
Gilson da Autoescola, vereador no segundo mandato, estava em Brasília no dia 8 de janeiro e publicou vídeos em uma rede social na Esplanada dos Ministérios, juntos aos filhos menores de idade, minutos antes da invasão e depredação do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal. Após a repercussão negativa, apagou o conteúdo da internet. No dia seguinte (9.jan), o parlamentar publicou uma nota afirmando que não aprova e nem participa de “nenhuma atitude contra a democracia”.
No mesmo dia, a Câmara emitiu uma nota repudiando “todo e qualquer ato de vandalismo ou antidemocracia” e anunciou a abertura da apuração na Comissão Permanente de Ética, Decoro Parlamentar e Estudos Legislativos.
O PSB Betim protocolou um pedido de esclarecimentos sobre o vídeo publicado na internet. Já o PT Betim e CDDH Betim (Centro de Defesa dos Direitos Humanos) entraram com pedido de cassação de Gilson da Autoescola. Três cidadãos betinenses também fizeram petições contra o parlamentar.
Como votaram os vereadores
A favor da cassação:
— Daniel Costa (PT);
— Dudu Braga (PV);
— Erasmo da Academia (PSD);
Contrários à cassação:
— Adelio Carlos (PSC);
— Angela Maria (Republicanos);
— Carlin Amigão (PTB);
— Gregorio Silva (PROS);
— Irani Maritaca (União);
— Júnior Trabalhador (União);
— Klebinho Resende (PROS);
— Layon Silva (Republicanos);
— Marquinho Rodrigues (PV);
— Paulo Tekin (PL);
— Professor Alexandre Xeréu (PROS);
— Professor Wellington (PSC);
— Roberto da Quadra (Patriota);
— Rony Martins (Avante)
— Tiago Santana (PCdoB);
— Vitor Braz (Republicanos);
— Zezinho do Carmo (PTB);
Não votaram:
— Léo Contador (Presidente);
— Gilson da Autoescola (Cidadania);
Ausente:
— Claudinho (PSD).
Íntegra do discurso de Gilson da Autoescola antes de votação de pedido de investigação e cassação de mandato
“Quero de forma simples e objetiva esclarecer alguns pontos da minha presença em Brasília, no dia 8 de janeiro. Dando ampla cobertura aos atos ocorridos na Praça dos Três Poderes, a mídia nacional acabou por divulgar um vídeo que eu mesmo gravei e postei em meu perfil, no qual registrava a minha presença e dos meus filhos no local. Esse vídeo teve grande repercussão, gerando muitas opiniões, críticas e acusações quanto ao meu gesto, visto que sou um parlamentar.
Enfatizo aqui algumas verdades, as quais já apresentei anteriormente, em alguns canais informativos. Primeiro: fui a Brasília em carro próprio, Fiat Mobi da minha auto escola; segundo: em minha companhia estava meus filhos, Raul, de 14 anos, e Heitor, de 12 anos. Por tratar-se de um período de férias escolares deles e meu recesso nas plenárias, decidi levá-los para passear um pouco, passando por algumas cidades, começando por Brasília. Visto que minha esposa estava de repouso devido a um procedimento cirúrgico recente, ela e nosso filho Júlio César permaneceram em Betim; terceiro: nos hospedamos em hotel da cidade, fato que comprovo com a nota fiscal emitida pelo estabelecimento; quarto: assim que os tumultos cresceram no local, eu e meus filhos nos retiramos para o hotel; quinto: devido à proporção dos acontecimentos, acabamos por regressar no dia seguinte, segunda, 9 de janeiro, para nossa cidade; sexto: o que muitos questionam foi: mas por que você escolheu logo Brasília? Não nego que, assim como qualquer cidadão, tenho também minhas contestações sobre as propostas do atual governo, entre outras, o aumento de 60% no número de ministérios, a omissão no relatório de transição sobre a retomada do crescimento econômico, o arrefecimento da economia, a quebra do teto de gastos, etc.
Por esses e outros motivos, decidi fazer parte de um manifesto pacífico, do qual não fariam parte invasões, quebradeiras e depredação de patrimônio. Meu nome não figura em nenhuma lista de acusados. Nada contra mim foi demonstrado. Não há nada que me ligue ao vandalismo tornado público naquele dia. Não há nada que me coloque em qualquer grupo naquele dia. Não há nada que indique, ainda que minimamente, que eu tenha patrocinado ou incentivado aquelas ações antidemocráticas.
Mas então, senhores vereadores, cabe-nos uma importante pergunta neste momento: uma vez que absolutamente nada de criminoso foi demonstrado contra mim, mesmo diante da ampla investigação realizada pelo Estado brasileiro, por qual motivo esta Casa irá votar pedido de cassação do meu mandato? A resposta me parece muito clara: motivações políticas e partidárias. Políticas porque a disputa por um espaço nesta Casa é sempre acirrada, e tirar do páreo um vereador sólido e com forte apoio popular torna a corrida menos acirrada. E partidárias porque as nossas legislações mudaram o arranjo partidário no Brasil, e isso fez com que muitos grupos políticos ficassem sem um lugar adequado para o pleito eleitoral que já se avizinha. Como eu sou um dos poucos vereadores que tenho um espaço partidário consolidado na cidade, a cassação do meu mandato abriria espaço para alguém ocupar. Embora eu entenda esses embates e guardadas as devidas proporções, eu até considero normais. De modo algum, eles representam motivo, razão ou circunstâncias para a cassação do meu mandato.
Para finalizar, quero fazer uma consideração e um pedido. A minha consideração tem a ver com os ensinamentos de Jesus. Um amigo meu, quase irmão, certa vez me disse que o tema da justiça ocupa o centro dos ensinamentos de Jesus. No conhecido sermão da montanha, Jesus falou muito sobre humildade, oração e justiça. Segundo esse amigo, uma leitura atenta da bíblia nos revelará que a injustiça é um dos poucos erros humanos que Deus tem pouca tolerância. Essa é a minha consideração. E o meu pedido, nobres vereadores, é que vocês, diante de tudo que expus nessa manhã, votem de forma consciente e que obedeçam a voz dos fatos, sem cederam a pressão de grupos A ou B. Sejam imparciais, honestos e, acima de tudo, votem com justiça”.